Me formei em 2006 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), fiz residência em Cirurgia Geral e, posteriormente, em Cirurgia do Aparelho Digestivo no Hospital das Clínicas da FMUSP. Após o término da minha residência em 2011, me dediquei ao tratamento do Câncer do Aparelho Digestivo, atuando no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, sobretudo em Cirurgia Pancreática, uma área com procedimentos de alta complexidade em que o número de casos tratados tem impacto direto nas taxas de complicações dessas cirurgias. O estudo desses resultados é a minha linha de pesquisa dentro da Universidade e o tema do meu projeto de doutorado. Desde que iniciei meus estudos em Cirurgia Pancreática, grande parte da minha dedicação foi em cirurgia minimamente invasiva, ou seja, feita através de pequenos cortes, primeiramente por via laparoscópica e recentemente por meio de cirurgia robótica.
De acordo com
dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pâncreas representa cerca de 2% de todos os tipos de câncer diagnosticados e um total de 4% das mortes pela doença.
Para o sucesso do tratamento é fundamental a ressecção do tumor com margens cirúrgicas livres. Neste artigo, mostraremos uma série de informações sobre os principais tipos de cirurgia para câncer de pâncreas. Continue acompanhando para saber mais sobre o assunto!
A cirurgia potencialmente curativa só deve ser realizada se houver a possibilidade de que todo o tumor seja removido, já que a sobrevida não aumenta com a remoção de apenas uma parte do tumor, segundo o que apontam alguns estudos.
Ainda assim, a cirurgia para câncer de pâncreas é uma das mais complexas de ser realizada, isso porque a recuperação pós-cirúrgica é lenta e existem grandes chances de complicações. Sendo assim, o paciente, juntamente à equipe médica, deve compreender e avaliar os potenciais riscos e benefícios de realizá-la.
No momento do diagnóstico, estima-se que 20 a 30 % dos tumores são ressecáveis, portanto, é fundamental uma boa avaliação para determinar o correto estágio da doença, a fim de recorrer ao melhor tratamento possível.
A única chance de cura para o câncer de pâncreas é por meio de uma cirurgia. Contudo, algumas células cancerígenas podem já ter se disseminado para outras partes do corpo, e portanto, é muito importante realizar quimioterapia após a cirurgia.
Vale mencionar, ainda, que a maioria das
cirurgias curativas são indicadas
quando o
tumor
está localizado na
cabeça do pâncreas. Por se encontrar
próximo ao conduto biliar, esse tumor provoca
icterícia
(coloração amarelada ou alaranjada da pele), o que favorece um diagnóstico mais precoce para ser removido. Conheça abaixo os principais tipos de cirurgia para câncer de pâncreas.
Existem três tipos de cirurgia realizadas para a remoção de tumores do pâncreas. A seguir mostraremos como elas se caracterizam:
Considerando que 90% dos tumores se localizam na cabeça do órgão, a cirurgia de Whipple é a mais comum para tratar o câncer de pâncreas. Nela, é removido o duodeno (cabeça do pâncreas), a parte final da via biliar e a vesícula biliar. Sua duração é de quatro a seis horas e é considerada uma das maiores cirurgias do aparelho digestivo.
Geralmente, nos primeiros dias de internação, o pós-operatório é realizado em UTI e o paciente deve permanecer no hospital de 7 a 14 dias após a cirurgia.
Se o tumor não estiver muito próximo às veias ou grandes artérias, o procedimento pode ser realizado por via minimamente invasiva. Ou seja: com pequenas incisões e com o uso de um robô.
Quando o tumor fica localizado na cauda do pâncreas, a cirurgia a ser feita é a pancreatectomia distal. Nesse procedimento, é comum que o baço seja removido juntamente com o pâncreas. Portanto, antes da cirurgia, o paciente precisa receber vacinas para meningite e pneumonia — já que o baço tem grande importância no combate dessas infecções.
Na maioria dos casos, estes procedimentos cirúrgicos são realizados de modo minimamente invasivo, também com uso de um robô ou por laparoscopia convencional.
Este tipo de cirurgia para câncer de pâncreas é raramente utilizado e tem como principal efeito colateral o aparecimento de diabetes no pós-operatório. Porém, existem modernas terapias com novas insulinas que ajudam a controlar as consequências. Além de dispositivos implantáveis, como as bombas de insulina.
Hoje todos esses procedimentos podem ser feitos por via minimamente invasiva, ou seja, através de pequenas incisões na parede abdominal.
Para os tumores da cauda do pâncreas, tanto as técnicas laparoscópicas quanto a robótica são alternativas seguras e superiores à cirurgia aberta, com menor perda de sangue, menor tempo de internação e recuperação mais rápida.
A duodenopancreatectomia é uma cirurgia mais complexa, que exige maior emprego de tecnologia e treinamento, por isso, as plataformas de cirurgia robótica são mais adequadas para sua execução.
Antes de qualquer cirurgia, é essencial avaliação clínica rigorosa, para verificar possíveis problemas de saúde que possam ser corrigidos, o que diminui o risco de complicações e mortalidade no pós-operatório. Além disso, é importante a avaliação nutricional, sobretudo em quadros de câncer, pois a desnutrição é frequente em pacientes que perderam muito peso.
No dia da cirurgia, é necessário
jejum para alimentos sólidos, mas pacientes que não têm problemas gástricos, podem tomar líquidos até 2 horas antes do procedimento.
No pós-operatório de pancreatectomias, muitos pacientes desenvolvem sequelas relacionadas à perda de parte do pâncreas. Após as duodenopancreatectomias, é frequente desenvolver deficiência das enzimas de digestão do pâncreas, o que exige reposição das mesmas, por via oral, no momento das refeições.
Após a
remoção da cauda do pâncreas, cerca de 15% dos pacientes podem tornar-se
diabéticos.
Além de estar atento às possíveis complicações depois de realizar o procedimento, é importante que o paciente siga as recomendações médicas quanto aos cuidados pós-operatórios:
Como você pôde conferir, existem três tipos de cirurgia para câncer de pâncreas. Cada alternativa tem suas respectivas indicações, características e, como todo procedimento cirúrgico, a possibilidade de determinados riscos e complicações.
É válido destacar que as chances de que o tumor seja completamente removido, sem ressecção, dependem de uma série de fatores. O ideal é conversar com um cirurgião para escolher a melhor forma de tratamento, analisando os prós e contras de cada opção.
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