Câncer no pâncreas: sintomas, diagnóstico e tratamentos

Guilherme Namur • 8 de agosto de 2024

O pâncreas é um órgão que faz parte do sistema digestivo humano, ligado ao duodeno. Ele se situa na parte superior do abdômen e é dividido em três partes, a cabeça, o corpo e a cauda. 



Sua porção exócrina produz o suco pancreático, que atua na digestão de carboidratos, gorduras e proteínas. Já sua porção endócrina produz a insulina e o glucagon, hormônios responsáveis pela manutenção do nível ideal de glicose no sangue. 


Seu bom funcionamento é vital para a manutenção de um organismo saudável. Por isso é essencial estar atento e conhecer o que é, as causas, sintomas e tratamentos para a principal doença que acomete esse órgão: o câncer no pâncreas.


O que é câncer no pâncreas?


O câncer de pâncreas é a presença de células tumorais no pâncreas. É uma doença considerada de alto risco, sendo seu índice de mortalidade quase igual ao índice de incidência. Por sua agressividade, somente de 1% a 4% dos pacientes vivem mais de 5 anos após o diagnóstico. 


O alto índice de mortalidade também se dá pelo fato de ser um câncer de difícil diagnóstico, principalmente quando se fala em diagnóstico precoce. A falta de uma terapia eficaz também contribui para a mortalidade alta.


Tipos de câncer de pâncreas


O câncer de pâncreas é um tumor maligno na porção exócrina do órgão.  O tipo mais prevalente de câncer de pâncreas é o adenocarcinoma ductal, que se origina no tecido glandular e é o tipo mais agressivo da doença. Tal tumor exócrino corresponde a 90% dos casos diagnosticados e atinge, majoritariamente, a cabeça do órgão, que fica no lado direito do abdômen. Existem outros tumores malignos do pâncreas, bem mais raros, os tumores neuroendócrinos, que acometem 1 em cada 100.000 pessoas. 


O adenocarcinoma geralmente tem origem nos ductos pancreáticos, mas pode surgir também a partir das células que produzem as enzimas pancreáticas, chamados carcinomas de células acinares.


Tipos mais raros de tumores exócrinos no pâncreas incluem:


  • Carcinomas adenoescamosos: Estes tumores representam uma combinação de componentes glandulares e escamosos. Embora sejam menos comuns que o adenocarcinoma, sua abordagem terapêutica requer uma compreensão cuidadosa da natureza combinada desses componentes e pode envolver estratégias terapêuticas adaptadas;
  • Carcinomas de células escamosas: Este subtipo é caracterizado por células epiteliais escamosas. Embora mais frequentemente associados a tumores em outros órgãos, como pulmão e esôfago, também podem ocorrer no pâncreas, embora mais raramente. Seu tratamento pode ser desafiador devido à sua natureza menos comum e às peculiaridades biológicas;
  • Carcinomas de células em anel de sinete: os carcinomas de células em anel de sinete são caracterizados pela presença de células com núcleos deslocados para a periferia da célula, conferindo uma aparência morfológica distintiva;
  • Carcinoma indiferenciado de células gigantes: Este tipo de tumor é caracterizado pela presença de células gigantes multinucleadas com características indiferenciadas. Sua natureza menos comum pode tornar o diagnóstico e o tratamento mais desafiadores;
  • Carcinomas indiferenciados: Este termo é usado para descrever tumores que exibem uma falta de diferenciação celular clara sob o microscópio. Embora possam surgir em várias partes do corpo, sua ocorrência no pâncreas é relativamente rara e exige uma abordagem de tratamento adaptada à sua natureza agressiva e menos diferenciada.


Principais sintomas e sinais


Os sintomas do câncer de pâncreas não são típicos, o que causa a dificuldade no diagnóstico da doença em estágio precoce. A icterícia, que é o amarelamento dos olhos e pele, aparece como o sintoma mais comum desse tipo de câncer.


A dor na parte média ou alta das costas também é um sintoma clássico da doença. Perda de peso, falta de apetite, náusea e fraqueza também aparecem como sinais comuns da doença.


Um sinal importante que merece muita atenção é a diabetes. Além de ser fator de risco para o desenvolvimento do tumor, a diabetes aparece como sintoma do funcionamento anormal do pâncreas acometido pelo tumor. Por esse motivo, o surgimento recente ou a piora no quadro de diabetes em adultos após os 60 anos de idade pode ser um indício para o diagnóstico de câncer de pâncreas.


Como o câncer de pâncreas tem sintomas muito comuns a outros tipos de câncer, é fundamental estar atento a qualquer alteração persistente e é muito importante estar alerta para os fatores de risco que podem fomentar o desenvolvimento da doença.


Fatores de risco


Os principais fatores de risco, que elevam as chances do desenvolvimento da doença, são o tabagismo, obesidade e diabetes, conforme citado acima. Além disso, há algumas doenças/condições genéticas, com a pancreatite crônica familiar ou síndromes mais raras (como a Peutz-Jeghers), que também aumentam o risco do câncer de pâncreas. 


Agricultores em contato com agrotóxicos, trabalhadores de manutenção predial e da indústria do petróleo também fazem parte dos grupos de risco por estarem em contato direto com substâncias que podem levar ao câncer de pâncreas.


É possível prevenir o câncer de pâncreas?


Pela dificuldade em diagnosticar o câncer de pâncreas precocemente, a melhor maneira de se prevenir é levar um estilo de vida equilibrado e saudável.


Evitar ao máximo contato com tabaco, ativa e passivamente, fazer exercícios regulares, manter uma dieta balanceada rica em frutas e vegetais e evitar a ingestão de álcool em excesso são medidas que podem diminuir o risco de desenvolver esse tipo de câncer.

Determinadas lesões benignas podem ser diagnosticadas no pâncreas, como cistos, por exemplo, que podem predispor o desenvolvimento da doença. Portanto o seguimento e controle dessas lesões podem levar a um diagnóstico mais precoce. 


No entanto, de toda forma, é importante dizer que a prevenção, especificamente, do câncer de pâncreas é um pouco difícil, pois a maior parte dos tumores aparecerá devido a mutações genéticas aleatórias.


Diagnóstico do câncer de pâncreas


Como é feito o diagnóstico do câncer de pâncreas?


O câncer de pâncreas é de difícil diagnóstico, pois a maioria dos sinais ou sintomas só aparecem em estágio avançado. Contudo, se houver a suspeita por presença de sintomas, o diagnóstico é iniciado com exames de imagem, como uma tomografia de abdômen ou uma ressonância de abdômen.


Tomografia Computadorizada (TC) de Abdômen:


A TC de abdômen é um exame de imagem que utiliza raios-X e um computador para criar imagens detalhadas dos órgãos internos, incluindo o pâncreas. Durante o exame, o paciente é posicionado em uma mesa que desliza para dentro de um scanner em forma de anel, onde são obtidas várias imagens transversais do abdômen.


Como Funciona: Durante a TC de abdômen, o paciente pode ser injetado com um contraste intravenoso, que ajuda a realçar as estruturas internas e tornar os detalhes mais visíveis nas imagens. O exame é rápido e não invasivo, geralmente levando apenas alguns minutos para ser concluído.


Detecção de Tumores Pancreáticos: A TC de abdômen pode detectar tumores no pâncreas, avaliar sua localização, tamanho e extensão para outros órgãos. Além disso, pode identificar possíveis metástases em outros locais do corpo.


Avaliação de Vasos Sanguíneos: A TC também é útil na avaliação dos vasos sanguíneos próximos ao pâncreas, fornecendo informações importantes sobre a vascularização do tumor e a possibilidade de cirurgia.


Ressonância Magnética (RM) de Abdômen:


A RM de abdômen é outro exame de imagem que utiliza campos magnéticos e ondas de rádio para produzir imagens detalhadas dos órgãos internos, incluindo o pâncreas. Este exame é especialmente útil para avaliar tecidos moles e é frequentemente utilizado como complemento à TC.


Como Funciona
: Durante uma RM de abdômen, o paciente é posicionado dentro de um tubo de RM e submetido a campos magnéticos e pulsos de radiofrequência para criar imagens detalhadas. Assim como na TC, pode ser administrado contraste intravenoso para realçar certas áreas.


Detecção de Lesões Pancreáticas: A RM é eficaz na detecção de lesões no pâncreas, incluindo tumores e cistos. Ela fornece imagens de alta resolução dos tecidos moles, permitindo uma avaliação mais precisa das características do tumor.


Avaliação da Ducto Pancreático: A RM pode ser útil na avaliação do ducto pancreático, ajudando a determinar se há obstrução devido ao tumor ou outras condições.


Muitas vezes, realizar apenas um dos exames citados acima é o suficiente para obter o diagnóstico e indicar o tratamento cirúrgico, quando há uma suspeita clínica associada a uma imagem compatível com a de um tumor no pâncreas. 


Nos casos em que o paciente fará tratamento com quimioterapia ou a realização da cirurgia não for indicada de forma imediata, pode haver a necessidade de fazer uma biópsia, para extração do material e posterior avaliação, o que geralmente é feito através de exame de ecoendoscopia. Em seguida é feito o estadiamento, em que são avaliados o tamanho do tumor e se ele está restrito ao pâncreas ou se atingiu vasos, nervos ou outros órgãos.


Quais os exames necessários?


Uma vez presente a suspeita de câncer no pâncreas, o médico especialista pode solicitar alguns de exames para avaliar o quadro. Dentre os principais exames estão os de imagem, como a tomografia de abdômen ou a ressonância de abdômen, conforme citado anteriormente. 


Tratamentos para o câncer de pâncreas


A indicação do tratamento mais adequado para cada caso depende, principalmente, do estágio em que a doença é diagnosticada. Os tumores de pâncreas são, basicamente, classificados em:


  • Ressecáveis: não invadem nenhuma estrutura vital que não pode ser removida durante o procedimento cirúrgico;
  • Localmente avançados: lesões grandes/extensas que não podem ser ressecadas, mas não apresentam metástases;
  • Metástaticos: a doença não é restrita ao pâncreas, espalhando-se por outros órgãos, como fígado, pulmões e peritônio. 


A única possibilidade de cura para o câncer de pâncreas se dá pela cirurgia, normalmente de ressecção (retirada do tumor). Radioterapia e quimioterapia ajudam a diminuir o tumor e aliviar os sintomas da doença, principalmente em casos nos quais a cirurgia não é possível. 


Em pacientes com metástase, o tratamento cirúrgico não é realizado e indica-se a quimioterapia, a fim de prolongar o tempo de vida do paciente e melhorar a qualidade de vida, pois a quimioterapia proporciona melhora dos sintomas relacionados ao tumor. 


Quando a cirurgia é necessária?


A cirurgia é necessária para obter cura. Contudo, ela só é possível quando o tumor é identificado como ressecável, ou seja, passível de ser retirado cirurgicamente sem comprometer nenhum vaso, nervo ou órgão adjacente e o paciente apresentar condições clínicas para realizar o procedimento, devido à complexidade de tal cirurgia.


Além disso, vale ressaltar que em casos de tumores localmente avançados, há diversas opções terapêuticas e é neste campo que a cirurgia e a oncologia clínica mais têm evoluído. Hoje em dia, pacientes com tumores localmente avançados são submetidos à realização da quimioterapia ou radioterapia antes de qualquer procedimento cirúrgico, tratamento considerado neoadjuvante, e, a depender da resposta, pode ser indicada a cirurgia para ressecar os tumores com intuito de cura. 


Como é feita a cirurgia?


O procedimento cirúrgico para retirada de um câncer no pâncreas é complexo e depende da localização do tumor. O tipo mais comum é conhecido como cirurgia de Whipple (Gastroduodenopancreatectomia), recomendado para tumores que atingem a cabeça ou corpo do pâncreas. No procedimento são retirados a cabeça do pâncreas, duodeno, via biliar distal, vesícula biliar e, eventualmente, parte do estômago.


A Gastroduodenopancreatectomia está entre as cirurgias mais complexas do aparelho digestivo, chegando a durar entre 4 e 5 horas. No entanto, felizmente, grande parte dos procedimentos cirúrgicos para o tratamento do câncer de pâncreas pode ser feita através de vias minimamente invasivas, isto é, cirurgias realizadas por pequenas incisões, sem a necessidade de uma incisão grande.


Em casos nos quais há tumor na cauda, situação menos frequente, a cirurgia realizada é a pancreatectomia distal associada à esplenectomia. Trata-se de um procedimento menos complexo, porém de rara realização, pois o diagnóstico de tumores localizados na cauda do pâncreas, normalmente, é feito em estágios avançados da doença, por apresentar poucos sintomas. 


Perguntas sobre o câncer de Pâncreas


Quais os primeiros sinais de câncer no pâncreas?
Os primeiros sinais de câncer no pâncreas incluem dor abdominal, perda de peso inexplicável, icterícia e mudanças nos hábitos intestinais.


Quais são os estágios do câncer no pâncreas?
O câncer no pâncreas é geralmente classificado em estágios de acordo com o tamanho do tumor e se ele se espalhou para outros órgãos. Os estágios incluem estágio I (câncer confinado ao pâncreas) até estágio IV (câncer disseminado para órgãos distantes).


Quais são os efeitos colaterais do tratamento para câncer no pâncreas?
Os efeitos colaterais do tratamento para câncer no pâncreas podem incluir fadiga, náuseas, perda de cabelo, perda de apetite, diarreia, problemas de digestão e diminuição da contagem de células sanguíneas.


Porque o câncer de pâncreas é tão perigoso?
O câncer de pâncreas é perigoso devido à dificuldade de detecção precoce, à rápida disseminação para outros órgãos e à baixa taxa de sobrevivência, muitas vezes devido à falta de sintomas até estágios avançados.


É possível sobreviver ao câncer de pâncreas?
A possibilidade de sobrevivência ao câncer de pâncreas é baixa devido ao diagnóstico frequentemente tardio e à agressividade da doença, mas o tratamento adequado pode melhorar as perspectivas de sobrevivência em alguns casos.


Quais são os avanços mais recentes na pesquisa sobre tratamentos para câncer no pâncreas?
Avanços recentes na pesquisa incluem terapias-alvo e imunoterapia, visando especificamente as mutações genéticas do tumor e estimulando o sistema imunológico a combater o câncer.


Existe alguma dieta específica que possa ajudar a melhorar os sintomas do câncer no pâncreas?
Uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras pode ajudar a aliviar sintomas como náuseas, perda de apetite e problemas digestivos, enquanto evita alimentos gordurosos e picantes.


Quais são os sinais de alerta de complicações após a cirurgia para câncer no pâncreas?
Sinais de alerta de complicações após a cirurgia incluem febre persistente, dor abdominal intensa, sangramento excessivo, icterícia recorrente e dificuldade respiratória, requerendo atenção médica imediata.


Câncer no pâncreas: atenção aos sintomas é a melhor prevenção


O câncer de pâncreas é uma doença de tratamento complexo e, muitas vezes, os sintomas são inespecíficos, além de dificilmente diagnosticado em estágio precoce. 


Como visto no artigo, não levar um estilo de vida saudável e não estar atento aos possíveis sinais de um câncer no pâncreas podem ter consequências. Pacientes que notam amarelamento nos olhos ou pele (icterícia), aparecimento de diabetes de forma repentina e perda de peso sem causa aparente devem consultar um médico, a fim de avaliar o quadro.

Sempre que notar essas alterações é fundamental buscar atendimento médico. Só um especialista pode identificar e indicar o tratamento adequado.


Se você está experimentando sintomas que podem indicar o câncer de pâncreas, é importante procurar atendimento médico imediatamente. Lembre-se, a detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais para gerenciar doenças do pâncreas e prevenir complicações. Assim, te convidamos a conhecer o Dr. Guilherme Namur, Cirurgião do Aparelho Digestivo que une especialização na melhor universidade do país, rigor clínico e experiência cirúrgica em prol do bem-estar de pacientes. Agende sua consulta!


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