Me formei em 2006 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), fiz residência em Cirurgia Geral e, posteriormente, em Cirurgia do Aparelho Digestivo no Hospital das Clínicas da FMUSP. Após o término da minha residência em 2011, me dediquei ao tratamento do Câncer do Aparelho Digestivo, atuando no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, sobretudo em Cirurgia Pancreática, uma área com procedimentos de alta complexidade em que o número de casos tratados tem impacto direto nas taxas de complicações dessas cirurgias. O estudo desses resultados é a minha linha de pesquisa dentro da Universidade e o tema do meu projeto de doutorado. Desde que iniciei meus estudos em Cirurgia Pancreática, grande parte da minha dedicação foi em cirurgia minimamente invasiva, ou seja, feita através de pequenos cortes, primeiramente por via laparoscópica e recentemente por meio de cirurgia robótica.
A obesidade é uma doença com grande estigma social. Somente no Brasil, 13,6 milhões de pessoas estão consideravelmente acima do peso e teriam indicação para se submeter à cirurgia bariátrica.
A obesidade tem que ser encarada como uma doença, porque, além dos riscos inerentes ao próprio excesso de peso, ela é responsável pelo agravamento de uma série de comorbidades, como hipertensão, diabetes e apneia do sono.
Estima-se que o número de cirurgias bariátricas realizadas cresceu 84,7% entre 2011 e 2018. Neste período, 424.682 pacientes foram submetidos ao procedimento. De todas as pessoas aptas a realizá-la, apenas de 4% a 5% chegam a ser operadas.
Nesse artigo, mostraremos os tipos de cirurgia bariátrica que podem ser realizados e os cuidados que devem ser tomados antes e depois do procedimento. Abordaremos, ainda os critérios avaliados na hora de indicá-lo a um paciente.
Boa leitura!
É o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, que é definida como IMC (Índice de Massa Corporal) superior a 40. Para pacientes nessa condição, o sucesso do tratamento clínico costuma ser baixo, girando em torno de 5%. Já a cirurgia bariátrica oferece resultados satisfatórios em até 95% dos casos.
Para que a cirurgia seja indicada, o paciente deve estar com o seu IMC estável por pelo menos 2 anos e ter passado por outros tratamentos clínicos, como:
A
cirurgia bariátrica é
contraindicada para quem sofre de obesidade secundária , ou seja, pessoas que apresentam doenças orgânicas que podem ter causado o ganho de peso, como Síndrome de Cushing.
Pacientes com doenças psiquiátricas graves e não tratadas ou com histórico de neoplasia maligna em atividade ou em tratamento também não devem ser submetidos a ela.
A cirurgia bariátrica não deve ser a primeira opção para o tratamento da obesidade. Isso significa que quem nunca tentou outra estratégia para perder peso não deve ser selecionado para a cirurgia, pois as chances de insucesso são grandes.
Os principais critérios avaliados para a indicação da cirurgia bariátrica são:
Existem 5 tipos de cirurgia bariátrica que podem ser realizados. São eles:
Também conhecida como Sleeve , é uma cirurgia que envolve apenas o estômago, ou seja, não é alterado o caminho natural do alimento. Nela, é feita uma tubulização do estômago , em que o órgão, que normalmente possui um volume de 1,5 a 2 litros, passa a comportar apenas 150 ml. Além disso, ele se torna fino e delgado, como se fosse uma manga de camisa.
Atualmente, já é a técnica mais realizada no mundo, principalmente porque, a longo prazo, é o que apresenta menos complicações metabólicas , como deficiência de vitamina. Além disso, reduz a necessidade de passar por uma nova operação devido a complicações, como hérnias internas.
Nesse procedimento, também chamado de Bypass Gástrico , é feito o grampeamento de parte do estômago , reduzindo o espaço disponível para o alimento, e um atalho entre a parte mais distal do intestino e o estômago – o que promove o aumento da saciedade.
É a associação entre os dois procedimentos acima. Nele, 60% do órgão é retirado, mantendo, porém, sua anatomia básica e fisiologia de esvaziamento.
Nesse tipo de cirurgia bariátrica, é instalado um anel de silicone ao redor do estômago, visando apertá-lo e, com isso, controlar o esvaziamento do estômago . Representa apenas 1% dos procedimentos realizados no Brasil
Todos os procedimentos são feitos hoje por via minimamente invasiva, tanto laparoscópica quanto robótica, de forma que há excelente controle da dor no pós-operatório com incisões muito pequenas, não maiores do que 12 mm.
É fundamental que antes de ser submetido à cirurgia o paciente passe por uma avaliação multidisciplinar. Ele precisa ser avaliado por diversos profissionais, como:
Geralmente, é solicitado que haja a perda de uma certa quantidade de peso . Isso é importante pois diminui os riscos de complicação no pós-operatório, sobretudo para quem possui superobesidade, ou seja, IMC superior a 50.
O pós-operatório no período imediato é feito em ambiente hospitalar, visto que o paciente precisa ficar internado por cerca de 48 horas. Ao longo das primeiras 2 semanas, é liberada a ingestão apenas de líquidos.
Posteriormente, aos poucos, é possível aumentar a consistência dos alimentos. Porém, durante 2 meses a dieta é bastante restrita, justamente porque há grande modificação estrutural do órgão.
É necessário, ainda, utilizar algumas medicações, principalmente os inibidores de bomba protônica, como omeprazol, a fim de diminuir a acidez do estômago e as chances de complicações agudas. Os anticoagulantes também podem ser necessários, principalmente no período em que o paciente precisa ficar mais tempo deitado.
Devido a grande perda de peso, mais da metade dos pacientes desenvolvem pedra na vesícula biliar . Logo, grande parte deles precisa ser submetido a colecistectomia.
É comum também que o paciente fique com excesso de pele. Nesses casos, geralmente é recomendado realizar uma cirurgia plástica reparadora em algumas partes do corpo, como:
Porém, ela pode ser realizada apenas quando o peso do paciente já se encontra estável – o que pode demorar até 2 anos. Alguns casos podem necessitar fazer essa cirurgia reparadora antes, como quando o excesso de pele e gordura estão prejudicando na locomoção.
Se você sofre de obesidade, é importante consultar um especialista. Afinal, ela é considerada uma doença como qualquer outra e, portanto, precisa ser tratada adequadamente.
Atualmente, a cirurgia bariátrica possui alta taxa de sucesso e baixos riscos à saúde. Logo, avalie a possibilidade de realizá-la junto com o seu cirurgião plástico.