Me formei em 2006 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), fiz residência em Cirurgia Geral e, posteriormente, em Cirurgia do Aparelho Digestivo no Hospital das Clínicas da FMUSP. Após o término da minha residência em 2011, me dediquei ao tratamento do Câncer do Aparelho Digestivo, atuando no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, sobretudo em Cirurgia Pancreática, uma área com procedimentos de alta complexidade em que o número de casos tratados tem impacto direto nas taxas de complicações dessas cirurgias. O estudo desses resultados é a minha linha de pesquisa dentro da Universidade e o tema do meu projeto de doutorado. Desde que iniciei meus estudos em Cirurgia Pancreática, grande parte da minha dedicação foi em cirurgia minimamente invasiva, ou seja, feita através de pequenos cortes, primeiramente por via laparoscópica e recentemente por meio de cirurgia robótica.
O pâncreas é um órgão que faz parte do sistema digestivo humano, ligado ao duodeno. Ele se situa na parte superior do abdômen e é dividido em três partes, a cabeça, o corpo e a cauda.
Sua porção exócrina produz o suco pancreático, que atua na digestão de carboidratos, gorduras e proteínas. Já sua porção endócrina produz a insulina e o glucagon, hormônios responsáveis pela manutenção do nível ideal de glicose no sangue.
Seu bom funcionamento é vital para a manutenção de um organismo saudável. Por isso é essencial estar atento e conhecer o que é, as causas, sintomas e tratamentos para a principal doença que acomete esse órgão: o câncer no pâncreas.
O câncer de pâncreas é a presença de células tumorais no pâncreas. É uma doença considerada de alto risco, sendo seu índice de mortalidade quase igual ao índice de incidência. Por sua agressividade, somente de 1% a 4% dos pacientes vivem mais de 5 anos após o diagnóstico.
O alto índice de mortalidade também se dá pelo fato de ser um câncer de difícil diagnóstico , principalmente, quando se fala em diagnóstico precoce. A falta de uma terapia eficaz também contribui para a mortalidade alta.
O câncer de pâncreas é um tumor maligno na porção exócrina do órgão. O tipo mais prevalente de câncer de pâncreas é o adenocarcinoma ductal , que se origina no tecido glandular e é o tipo mais agressivo da doença. Tal tumor exócrino corresponde a 90% dos casos diagnosticados e atinge, majoritariamente, a cabeça do órgão, que fica no lado direito do abdômen. Existem outros tumores malignos do pâncreas, bem mais raros, os tumores neuroendócrinos, que acometem 1 em cada 100.000 pessoas.
O adenocarcinoma geralmente tem origem nos ductos pancreáticos, mas pode surgir também a partir das células que produzem as enzimas pancreáticas, chamados carcinomas de células acinares.
Tipos mais raros de tumores exócrinos no pâncreas incluem:
Os sintomas do câncer de pâncreas não são típicos, o que causa a dificuldade no diagnóstico da doença em estágio precoce. A icterícia , que é o amarelamento dos olhos e pele, aparece como o sintoma mais comum desse tipo de câncer.
A dor na parte média ou alta das costas também é um sintoma clássico da doença. Perda de peso, falta de apetite, náusea e fraqueza também aparecem como sinais comuns da doença.
Um sinal importante que merece muita atenção é a diabetes. Além de ser fator de risco para o desenvolvimento do tumor, a diabetes aparece como sintoma do funcionamento anormal do pâncreas acometido pelo tumor. Por esse motivo, o surgimento recente ou a piora no quadro de diabetes em adultos após os 60 anos de idade pode ser um indício para o diagnóstico de câncer de pâncreas.
Como o câncer de pâncreas tem sintomas muito comuns a outros tipos câncer, é fundamental estar atento a qualquer alteração persistente e é muito importante estar alerta para os fatores de risco que podem fomentar o desenvolvimento da doença.
Os principais fatores de risco, que elevam as chances do desenvolvimento da doença, são o tabagismo, obesidade e diabetes, conforme citado acima . Além disso, há algumas doenças/condições genéticas, com a pancreatite crônica familiar ou síndromes mais raras (como a Peutz-Jeghers), que também aumentam o risco do câncer de pâncreas.
Agricultores em contato com agrotóxicos, trabalhadores de manutenção predial e da indústria do petróleo também fazem parte dos grupos de risco por estarem em contato direto com substâncias que podem levar ao câncer de pâncreas.
Pela dificuldade em diagnosticar o câncer de pâncreas precocemente, a melhor maneira de se prevenir é levar um estilo de vida equilibrado e saudável.
Evitar ao máximo contato com tabaco, ativa e passivamente, fazer exercícios regulares, manter uma dieta balanceada rica em frutas e vegetais e evitar a ingestão de álcool em excesso são medidas que podem diminuir o risco de desenvolver esse tipo de câncer.
Determinadas lesões benignas podem ser diagnosticadas no pâncreas, como cistos, por exemplo, que podem predispor o desenvolvimento da doença. Portanto o seguimento e controle dessas lesões podem levar a um diagnóstico mais precoce.
No entanto, de toda forma, é importante dizer que a prevenção, especificamente, do câncer de pâncreas é um pouco difícil, pois a maior parte dos tumores aparecerá devido a mutações genéticas aleatórias.
O câncer de pâncreas é de difícil diagnóstico, pois a maioria dos sinais ou sintomas só aparecem em estágio avançado. Contudo, se houver a suspeita por presença de sintomas, o diagnóstico é iniciado com exames de imagem , como uma tomografia de abdômen ou uma ressonância de abdômen.
Muitas vezes, realizar apenas um dos exames citados acima é o suficiente para obter o diagnóstico e indicar o tratamento cirúrgico, quando há uma suspeita clínica associada a uma imagem compatível com a de um tumor no pâncreas.
Nos casos em que o paciente fará tratamento com quimioterapia ou a realização da cirurgia não for indicada de forma imediata, pode haver a necessidade de fazer uma biópsia , para extração do material e posterior avaliação, o que geralmente é feito através de exame de ecoendoscopia. Em seguida é feito o estadiamento, em que são avaliados o tamanho do tumor e se ele está restrito ao pâncreas ou se atingiu vasos, nervos ou outros órgãos..
Uma vez presente a suspeita de câncer no pâncreas, o médico especialista pode solicitar alguns de exames para avaliar o quadro. Dentre os principais exames estão os de imagem, como a tomografia de abdômen ou a ressonância de abdômen, conforme citado anteriormente.
A indicação do tratamento mais adequado para cada caso depende, principalmente, do estágio em que a doença é diagnosticada. Os tumores de pâncreas são, basicamente, classificados em:
A única possibilidade de cura para o câncer de pâncreas se dá pela cirurgia, normalmente de ressecção (retirada do tumor). Radioterapia e quimioterapia ajudam a diminuir o tumor e aliviar os sintomas da doença, principalmente em casos nos quais a cirurgia não é possível.
Em pacientes com metástase, o tratamento cirúrgico não realizado e indica-se a quimioterapia, a fim de prolongar o tempo de vida do paciente e melhorar a qualidade de vida, pois a quimioterapia proporciona melhora dos sintomas relacionados ao tumor.
A cirurgia é necessária para obter cura. Contudo, ela só é possível quando o tumor é identificado como ressecável, ou seja, passível de ser retirado cirurgicamente sem comprometer nenhum vaso, nervo ou órgão adjacente e o paciente apresentar condições clínicas para realizar o procedimento, devido à complexidade de tal cirurgia.
Além disso, vale ressaltar que em casos de tumores localmente avançados , há diversas opções terapêuticas e é neste campo que a cirurgia e oncologia clínica têm mais evoluído. Hoje em dia, pacientes com tumores localmente avançados são submetidos à realização da quimioterapia ou radioterapia antes de qualquer procedimento cirúrgico, tratamento considerado neoadjuvante, e, a depender da resposta, pode ser indicada a cirurgia para ressecar os tumores com intuito de cura.
O procedimento cirúrgico para retirada de um câncer no pâncreas é complexo e depende da localização do tumor. O tipo mais comum é conhecido como cirurgia de Whipple (Gastroduodenopancreatectomia), recomendado para tumores que atingem a cabeça ou corpo do pâncreas. No procedimento são retirados a cabeça do pâncreas, duodeno, via biliar distal, vesícula biliar e, eventualmente, parte do estômago.
A Gastroduodenopancreatectomia está entre as cirurgias mais complexas do aparelho digestivo, chegando a durar entre 4 e 5 horas. No entanto, felizmente, grande parte dos procedimentos cirúrgicos para o tratamento do câncer de pâncreas pode ser feita através de via minimamente invasivas, isto é, cirurgias realizadas por pequenas incisões, sem a necessidade de uma incisão grande.
Em casos nos quais há tumor na cauda, situação menos frequente, a cirurgia realizada é a pancreatectomia distal associado a esplenectomia. Trata-se de um procedimento menos complexo, porém de rara realização, pois o diagnóstico de tumores localizados na cauda do pâncreas, normalmente, é feito em estágios avançados da doença, por apresentar poucos sintomas.
O câncer de pâncreas é uma doença de tratamento complexo e, muitas vezes, os sintomas são inespecíficos, além de dificilmente diagnosticado em estágio precoce.
Como visto no artigo, não levar um estilo de vida saudável e não estar atento aos possíveis sinais de um câncer no pâncreas podem ter consequências. Pacientes que notam amarelamento nos olhos ou pele (icterícia), aparecimento de diabetes de forma repentina e perda de peso sem causa aparente devem consultar um médico, a fim de avaliar o quadro.
Sempre que notar essas alterações é fundamental buscar atendimento médico. Só um especialista pode identificar e indicar o tratamento adequado.